MEIO AMBIENTE
Por mês, cerca de 200 animais silvestres morrem na BR-262 atropelados
23 JAN 2025 • POR G1MS/LD • 10h10Entre maio de 2023 e abril de 2024, 2,3 mil animais silvestres foram atropelados na BR-262, entre Campo Grande e a ponte do Rio Paraguai, próximo a Corumbá. Os dados fazem parte do monitoramento realizado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS).
As estatísticas revelam que, em um ano, cerca de 200 animais morreram todos os meses na rodovia. A morte mais recente é a de uma onça-pintada, registrada no dia 19 deste mês. Desde 2016, 20 animais da espécie morreram na rodovia, conforme aponta o Instituto do Homem Pantaneiro.
Segundo o presidente e fundador do ICAS, Arnaud Desbiez, a região abrange os biomas Cerrado e Pantanal e é monitorada desde 2013. Equipes percorrem a rodovia de carro a cada 15 dias para contabilizar as mortes. O pesquisador explica que os números podem ser ainda maiores, já que muitos animais não morrem no local do atropelamento.
“O animal é atropelado na rodovia, se a pancada é muito forte, ele morre ali, mas, mais da metade, na verdade, vão morrer a dez, vinte, até 900 metros da rodovia. E se o animal está a alguns metros da estrada, a gente já não vê ele mais”, explica.
O levantamento da instituição mostra, ainda, que entre as espécies mais atingidas por veículos estão os tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato.
Impacto às pessoas
Para Arnaud, as estatísticas revelam séria problemática em Mato Grosso do Sul, tanto para a fauna quanto para as pessoas que trafegam pela rodovia.
“Quando tem essa colisão com o animal, isso é uma ameaça muito grande para os usuários do veículo. Pessoas morrem nas estradas de Mato Grosso do Sul. É uma tragédia anunciada”, destaca.
O presidente do ICAS acredita, ainda, que ações mais efetivas precisam ser implementadas, como cercamentos que conduzem os animais para passagens seguras, evitando que eles atravessem a rodovia.
“A receita para evitar esse tipo de tragédia existe, já tem esse plano de mitigação, mas precisa que ele seja implementado.A BR-262 foi chamada de 'rodovia da morte' pelo New York Times, é uma rodovia famosa. A tendência das autoridades é colocar a culpa no usuário, dizendo que as pessoas dirigem muito rápido, não respeitam a velocidade. Mas, não é essa a problemática. Quando um animal atravessa rápido, não dá tempo”, comenta.
Dados do Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, repassados ao g1 pela organização, apontam que entre 2013 e 2024, 47 pessoas morreram em acidentes envolvendo colisão com antas.
O levantamento da INCAB abrange diversas rodovias de Mato Grosso do Sul, incluindo a BR-262, e reúne dados noticiados pela imprensa no período, considerando que colisões com antas resultam em graves acidentes.
"Então, eu penso muito na onça, mas eu penso também nesse carro [que atropelou a onça]. Se for um carro de pequeno porte, numa colisão como essa, poderia ter matado uma pessoa. Então, a gente nunca pode esquecer esse lado humano dessa tragédia", finaliza Arnaud.