NOSSO ENTREVISTADO DA SEMANA é Anderson Abraao Elias de oliveira, 52 anos, Capitão da Polícia Militar Ambiental do batalhão de Coxim, casado com Marília Colman - também Sargento da Polícia Militar Ambiental. Pai de 4 filhos: Anderson Abraao Castro Elias, Airyfer Castro Elias ("in memorian"), João e Samuel. Além do vôvô coruja dos netos Maria Eduarda, Elias e Emanuely.
Bacharel em Adminstração e atualmente cursando Direito na UFMS.
Jornal Diário do Estado: Começamos nossa entrevista falando da sobre a sua chegada no batalhão da Polícia Militar Ambiental de Coxim, como foi e quando?
Capitão Anderson: Glenda, sou natural de Aquidauana, assumi o comando em Coxim há exatos 9 meses, cheguei em fevereiro de 2024 fui muito bem recebido por todos do batalhão, pela população coxinense,minha família e eu já estamos totalmente adaptados a cidada, já me sinto em casa.
Jornal Diário do Estado: Capitão, como é a rotina do batalhão da Polícia Militar Ambiental em Coxim?
Capitão Anderson: Ao contrário daquilo que as pessoas pensam o trabalho da Polícia Militar Ambiental vai além de fiscalizar crimes contra o meio ambiente, a fauna e flora, nosso trabalho acontece o ano todo, agimos de forma que a prevenção seja trabalhada efetivamente na cidade de Coxim, como sempre falamos por aqui: Mais informação, menos crimes ambientais.
Jornal Diário do Estado: Hoje o efetivo conta com quantos policiais para a fiscalização?
Capitão Anderson: São 14 policiais para fiscalizar 27.000 km quadrados, nosso batalhão é responsável por fiscalizar não só o município de Coxim, mas também os municípios de: Rio Verde, Alcinópolis, Sonora, Pedro Gomes.
Jornal Diário do Estado: O senhor nos últimos anos tem sentido no dia a dia o reflexo das mudanças climáticas no trabalho de vocês?
Capitão Anderson: É impossível não sentir exemplo disso foi o que aconteceu no mês de junho aqui mesmo em Coxim, em vídeos divulgados vimos cardumes em massa mudando seu ciclo, a subida desses cardumes que deveriam acontecer em novembro com a piracema, mas aconteceu no mês de junho, os ciclos têm sido alterados, isso por conta das mudanças climáticas e ações humanas.
Jornal Diário do Estado: Nos últimos meses capitão todo o Brasil e no nosso estado não foi diferente vivemos a maior estiagem dos últimos 70 anos, como o senhor e sua equipe tem trabalhado no sentido de combate aos focos e se chegam denúncias para vocês de crimes ambientais cometidos na cidade.
Capitão Anderson: As denúncias chegam sim, trabalhamos de maneira harmoniosa com o corpo de bombeiros de Coxim e sempre respeitamos aquilo que nos cabe e aquilo que cabe a outra corporação. As matas ciliares têm sido destruídas, a ação humana tem sido impactante no sentido de destruição, o equilíbrio ecológico tem sido prejudicado em todos os segmentos do meio ambiente, destruição das matas, pesca predatória, crimes contra animais, maus tratos, Amazônia e Pantanal sendo destruídos pela ganância humana, tudo isso está ligado ao meio ambiente e nossa qualidade de vida, não só nossa, mas das futuras gerações também.
Jornal Diário do Estado: O senhor acha que levar educação ambiental para as escolas é importante?
Capitão Anderson: Sem dúvida nenhuma, a prevenção, a informação será sempre a ferramenta mais importante para criarmos adultos responsáveis e com consciência ambiental, nosso batalhão em Coxim realiza visitas nas escolas, falamos da importância da preservação, plantamos nas crianças e adolescente a responsabilidade de cuidar daquilo que é deles, se plantarmos desde muito cedo nas nossas crianças a importância ecológica e sustentável estaremos impedindo que crimes ambientais sejam praticados no futuro.
Jornal Diário do Estado: A polícia militar ambiental criou em 2023 o SIGIA (Sistema de Georeferenciamento e Informações Ambientais) mas em prática o que é esse sistema?
Capitão Anderson: O SIGIA é um sistema criado para ser um grande parceiro do nosso trabalho, em 2023 todos os comandantes da PMA estiveram em um encontro que aconteceu em Bonito para serem apresentados ao SIGIA, que nada mais é um centro de monitoramento, para sabermos quantas pessoas foram abordadas, quantas pessoas receberam autos de infração, acompanhamento em tempo real, o tempo de resposta será mais efetivo é a tecnologia ajudando a preservação do meio ambiente,é um sistema criado para que possamos monitorar, fiscalizar e punir aqueles que cometem crimes ambientais.
Jornal Diário do Estado: vocês recebem muitas denúncias,capitão?
Capitão Anderson: Bastante, muitas ligadas aos maus tratos de cães e gatos, mas uma coisa que precisamos deixar claro até para a população ter esse entendimento do que é considerado maus tratos ou não eu vou dar um exemplo: Se a pessoa, proprietária do animal doméstico sai para trabalhar, deixa seu animal amarrado por exemplo, mas com água e ração, isso não configura maus tratos, maus tratos é um animal agredido, doente e sem cuidados. É preciso ter a legitimidade do crime para que possamos agir.
Jornal Diário do Estado: Vamos falar de Piracema agora capitão, dia 5 de novembro começa a piracema e se estende até 28 de fevereiro, esta é a época do ano mais complicada para vocês?
Capitão Anderson: É uma época mais atípica , algumas pessoas têm bastante facilidade em descumprir a lei, mas um conselho que eu daria para quem pretende burlar a lei é: Não façam !!! receberemos reforços , nosso efetivo irá dobrar, usaremos a nossa inteligência para nos ajudar a coibir a pesca predatória, nosso efetivo estará espalhado por pontos estratégicos dos rios para pegarmos em flagrante aqueles que insistem em pescar durante a piracema.
Jornal Diário do Estado: O que acontece com quem for pego pescando durante a piracema?
Capitão Anderson: As penas não são leves, detenção de 3 meses a 1 ano caso seja pego em flagrante e encaminhado imediatamente encaminhado para delegacia de polícia pelo crime ambiental,multa de 700 reais a 100.000 mil reais, apetrechos de pescas recolhidos e todo pescado é confiscado e doado para instituições locais, como asilos, creches, hospitais.
Jornal Diário do Estado: Muitos tentam burlar a lei e praticam a pesca na piracema?
Capitão Anderson: Infelizmente sim, muitos são inclusive reincidentes.
Jornal Diário do Estado: Quantos kg de pescado foram apreendidos em 2023 pela PMA?
Capitão Anderson: 1.570,826Kg
Jornal Diário do Estado: Por que o senhor acha que eles mesmo sabendo que é proibido praticam a pesca durante a piracema?, mesmo sabendo que é um crime e que podem ser presos?
Capitão Anderson: Talvez porque achem que não serão pegos, o que é um grande equívoco por parte dos infratores, a lei existe para todos e iremos autuar e cumprir o que manda a lei.
Jornal Diário do Estado: A pesca predatória diante das fiscalizações e ações efetivas da equipe da PMA de Coxim tem aumentado ou diminuído o capitão?
Capitão Anderson: Importante sua pergunta Glenda, primeiro quero salientar a minha gratidão em ter essa equipe me auxiliando nos trabalhos na cidade de Coxim e toda região, todo trabalho para ter um resultado positivo precisa ter uma equipe coesa, unida e ciente das suas responsabilidades, e graças ao empenho da nossa equipe a pesca predatória caiu para 30% ,esse número não existiria sem o trabalho desses homens que são verdadeiros heróis, enfrentando o calor extremo, chuvas, animais, trabalhos de dia e de noite, rotina exaustiva, eles são os protagonistas pela preservação da natureza e dos nossos rios, não medem esforços e sacrifícios para proteger o meio ambiente.
Jornal Diário do Estado: Hoje, para uma pessoa que deseja pescar nos rios de Mato Grosso do Sul, quais documentos deve possuir para não transformar a pescaria em dor de cabeça?
Capitão Anderson: No caso dos pescadores profissionais carteira expedida pelo Ministério de Pesca e aquicultura para a obtenção da carteira do órgão estadual competente, pois compete ao estado legislar sobre questões de pesca em rios de domínio da união e estado, já para o pescador amador, ele pode tirar tanto a carteira expedida pelo ministério da pesca quanto a do Imasul, mas na categoria amadora e não profissional
Jornal Diário do Estado: Existe algum projeto que o senhor queira trazer para Coxim?
Capitão Anderson: Sim, o projeto florestinha,o Projeto Florestinha é um projeto socioambiental que tem como objetivo principal promover a educação ambiental e ações sociais com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
O projeto foi criado em 23 de novembro de 1992 e é desenvolvido pela Polícia Militar Ambiental (PMA) de Mato Grosso do Sul. O projeto atende crianças e adolescentes de 7 a 16 anos, com atividades práticas e teóricas.
O Projeto Florestinha tem como objetivos:
• Preparar os jovens para que se tornem defensores de um futuro sustentável
• Enfrentar o problema da marginalidade e da criminalidade crescente entre jovens de bairros periféricos
• Auxiliar os alunos a entrarem no mercado de trabalho.
O Projeto Florestinha já atendeu mais de 120 mil crianças e adolescentes. Os participantes do projeto já plantaram milhares de mudas de várias espécies em vários locais, da Capital e interior
Jornal Diário do Estado: O senhor acha que falta engajamento da sociedade para que os crimes ambientais sejam praticados?
Capitão Anderson: Acho que falta interesse, das pessoas como um todo e isso não é só aqui, eles acham que os recursos naturais são infinitos, mas estamos assistindo todos os dias notícias que nos trazem exatamente o oposto, floresta amazônica sendo destruída por ambição humana, nosso pantanal, acredito que gerações novas não recebam os estímulos necessários como fechar a torneira ao escovar os dentes, controle da água durante o banho, o reuso da água que lavamos nossas roupas, as pessoas usam a água como se não fosse acabar, destroem as matas e as florestas como se não houvesse consequência para isso, mas estamos sentindo a consequência de anos de irresponsabilidades. É preciso trabalhar educação ambiental urgente nas escolas, inclusive eu sou a favor que educação ambiental faça parte da grade curricular das escolas, isso seria uma maneira de formarmos pessoas conscientes do seu papel na sociedade.
Jornal Diário do Estado: Capitão, recentemente acompanhamos uma notícia que chocou tanto moradores de Coxim, que foi onde o fato aconteceu, quanto do estado e o Brasil, um pecuarista foi preso por maus tratos aos animais da sua propriedade, alguns crimes , mesmo com 32 anos dentro da PMA ainda chocam o senhor?
Capitão Anderson: Sim, e muito, sobre esse caso em específico eu fui o responsável pela prisão desse pecuarista, nossa equipe se deslocou até Campo Grande para efetuar a sua prisão em um condomínio de luxo da cidade .
Jornal Diário do Estado: Ao ser preso ele demonstrou arrependimento?
Capitão Anderson: Não demonstrou arrependimento, foram encontrados na sua propriedade em Coxim 268 cabeças de gado mortas, e mais 984 em situação de maus tratos, foi uma situação bastante triste, inclusive para nós que estamos acostumados com casos difíceis.
Jornal Diário do Estado: O senhor acha que as pessoas que praticam os crimes ambientais e contra animais fazem por desconhecer as leis?
Capitão Anderson: Não Glenda, fazem com a certeza da impunidade, primeiro acham que não irá acontecer com elas, que serão pegas, que a justiça não funcionará para elas, que não dará em nada, é um mero engano, estamos atentos e seremos fiscalizadores e como eu disse anteriormente a justiça é para todos, iremos coibir e combater toda prática ilícita que possa prejudicar o meio ambiente.
Jornal Diário do Estado: O senhor já pensou em deixar a PMA?
Capitão Anderson: Não, jamais pensei ,não só eu mas toda a equipe da PMA de Coxim trabalha com dedicação e amor na profissão que escolhemos, eu vejo todos os dias a dedicação e amor que a equipe tem ao desenvolver seus trabalhos, para fazer um trabalho bem feito toda a pessoa tem que estar feliz com a profissão que escolheu e nossa equipe não mede esforços diariamente para entregar bons resultados.
Jornal Diário do Estado: De que maneira as mudanças climáticas interferem no trabalho de vocês?
Capitão Anderson: Diretamente, os incêndios aumentam, a fiscalização nos rios por conta da seca extrema fica mais difícil por conta dos bancos de areia e pedras por que usamos barcos, as mudanças climáticas são sentidas por nós, porque lidamos com o meio ambiente, a natureza e a natureza está diretamente ligada as mudanças climáticas.
Jornal Diário do Estado: Como é o relacionamento entre a PMA e os pescadores e colônias de pescadores locais?
Capitão Anderson: Ótima pergunta Glenda, é uma oportunidade para desmistificar, essa cultura que existe um relacionamento ruim com os pescadores e colônias, o relacionamento é ótimo, não somos inimigos, estamos no mesmo barco, porque tanto para eles quanto para nós os peixes servem vivos dentro dos rios, preservando para que nunca falte.
Jornal Diário do Estado: Nesses 32 anos de serviços prestados para a PMA existiu algum caso que tenha marcado o senhor?
Capitão Anderson: Sim, em 2016 eu comandava o batalhão de Miranda e das cidades vizinhas, recebi no batalhão uma senhora que estava indo comunicar o desaparecimento de 3 pessoas que moravam em uma fazenda próxima que haviam saído para caçar, as 3 pessoas, todos homens desapareceram em uma área que existem muitas onças, cobras e sumidouros, mobilizamos a equipe do corpo de bombeiros que nos ajudou nas buscas, percorremos em média 17 km na busca por essas pessoas, foi um trabalho em equipe e não havia muita esperança que eles estivessem vivos, pelo tempo de desaparecimento, sem água , sem alimentos, para se ter ideia entre o grupo já existia um carro da funerária local para que os corpos fossem encaminhados. Enfim, para nossa surpresa localizamos todas as pessoas, bastantes desnutridos e muito fragilizados, como eles estavam com armas pois haviam ido caçar todos os procedimentos foram tomados, recolhemos as armas, eles foram atendidos pelos médicos, entregues para suas famílias, foi um momento de bastante comoção porque eles já eram tidos como mortos, foi bastante emocionante das famílias nos abraçando e agradecendo, tomamos todas as providências legais diante dos fatos, ficamos felizes que essa história teve um final feliz, são vidas humanas que foram salvas, essa passagem me marcou bastante, não só a mim, mas para todos que participaram desse resgaste.
Jornal Diário do Estado: Qual característica o senhor mais enxerga no trabalho efetuado por voces?
Capitão Anderson: Não é só uma, são algumas, a dedicação, a fidelidade, o amor pela profissão, a lealdade,o prazer que sentimos eu e a nossa equipe em cuidar do nosso bem mais precioso que é nosso meio ambiente.
Jornal Diário do Estado: Gostaria que o senhor deixasse suas considerações finais capitão
Capitão Anderson: Glenda, gostaria de agradecer a oportunidade de falar um pouco sobre nosso trabalho, nosso efetivo, essa equipe que é motivo de orgulhao, da responsabilidade que sentimos todos os dias com a sociedade coxinense, em cuidar e proteger esse patrimônio local que são seus rios e natureza como um tudo. Nosso trabalho não é fácil, mas sabemos que dele dependem as futuras gerações e temos noção da nossa responsabilidade. Somos um braço da sociedade, precisamos da coletividade e da ajuda da população coxinense para ajudar no nosso trabalho. Somos funcionários da sociedade coxinense, nosso batalhão estará sempre aberto para receber os coxineses, e ao Jornal Diário do Estado agradecemos pelo apoio em divulgar nossas ações e mostrar um pouco do nosso trabalho.